O que é literatura?


O que é literatura?

A literatura é o reflexo, exposto em forma de texto, da experiência de um artista vivenciada em uma determinada época. Mediante a visão que o artista possui das ideologias presentes na sociedade em que vive, utiliza-se deste pretexto para expor seu pensamento sobre a realidade e, o faz através da ficção, recriando tal realidade por meio de outras palavras. É arte que usa os conteúdos dos textos para proporcionar prazer e também estabelecer comunicação, e essa comunicação é feita através de diferentes meios, tais como livros, televisão, rádio, revistas, cinema, teatro entre outros que fazem da palavra seu elemento comum.

Além de tudo isso, a literatura tem a capacidade de provocar estranhamento; a cada releitura que fizermos de um mesmo texto, ainda nos serão apresentados novos elementos que nos causarão estranhamento, uma vez que, muitas das palavras são expostas não somente pela significação própria, mas empregadas no sentido mais geral que se pode atribuir a um termo.

A linguagem da literatura é uma forma particular, diferente da linguagem comum que usamos no nosso cotidiano. A literatura transforma e intensifica a linguagem comum, afastando-se sistematicamente da fala cotidiana. A literatura tem uma especificidade única, a de agir sobre o homem e fazer com que este tenha uma visão variada da realidade

A literatura não deve concentrar seu valor no que concerne às técnicas e aos métodos que estimulam e favorecem a memorização, mas deve sim, ser entendida como obra artística mais ampla, que busca representar a experiência
real das diferentes culturas.

Uma obra literária é o reflexo da expressão dos conhecimentos individuais de um determinado autor. Mas, se todos nós, escritores e leitores, temos nosso conhecimento, o que determina que um escrito de uma determinada pessoa seja considerado literatura, enquanto que um texto e/ou mesmo uma carta escritos por nós, leitores comuns, não sejam? O que caracteriza determinada obra como literária é a forma de percepção da realidade nela descrita, realidade profunda e original que surge da íntima intuição do autor e é transformada no conteúdo da narrativa.

O artista possui a sensibilidade de perceber, com maior facilidade, a realidade que o rodeia, vê de outro ângulo as dúvidas da vida. Por assim se diferenciar do homem comum, o escritor é capaz de criar novas expressões e desenvolver melhor a palavra e, assim, quem tem mais conhecimento para dizer algo, o faz de forma mais espontânea e expressiva. A única diferença entre o leitor comum e o escritor é que o último é naturalmente dotado de bem mais expressão e intuição da realidade do que o primeiro.

A literatura, em princípio, sempre será considerada como arte. Arte da palavra, da emoção, da criação dentre tantas outras características. O artista transforma e recria a realidade por meio de seu espírito criador e, através das
palavras, expõe na obra literária, a forma recriada da imaginação.

O que seria, afinal, literatura? O que significa dizer que a literatura de um país é composta de obras de um reconhecido valor estético? Esse valor estaria embutido somente em obras de cânones literários como Machado de Assis, Fernando Pessoa, Goethe, Shakespeare e outros mais, ou também estaria presente em poesias escritas
pelo escritor chamado Gentileza embaixo de viadutos, em histórias em quadrinhos para adultos de Alan Moore, em letras de música de Caetano Veloso? Como esse valor estético se constitui para julgar que tal obra deva entrar para o rol das grandes da história e que outra deva ser descartada?

Para começar, é importante notarmos que o juízo de valor pessoal e social muda com o tempo. Assim como Tiradentes, grande herói nacional (com direito a feriado), já foi considerado traidor várias vezes (sem direito a feriado), inclusive no século vinte, o juízo de valores é muito subjetivo e dependente dos humores socioeconômicos de um país. Carlos Drummond é considerado um grande poeta nos dias de hoje. Conseguirá sua obra manter a mesma longevidade que a Divina Comédia de Dante? Será que Dante ainda será lido daqui a dois séculos? Cabe-nos lembrar que não há prazo de validade para um autor ser considerado canônico ou não. Há alguns que se mantêm em evidência há séculos, como Shakespeare; outros fazem sucesso durante certa época, somem em outras, para posteriormente serem redescobertos.

Isso tudo, acreditamos, é um reflexo do que é considerado bom ou belo em certos períodos, ruim em outros. O valor estético, portanto, é variável e representativo em cada época, ou seja, para estudarmos Kafka, por exemplo, não podemos dissociá-lo do momento histórico em que vivia, não podemos dissociar literatura de história.

Outra questão que devemos abordar é a qualidade do conjunto. Serão todas as obras de um autor, considerado cânone literário (onde um conceito de dogma fica implícito), boas? Difícil responder. Voltando a Machado, alguns consideram Memórias Póstumas de Brás Cubas uma grande obra, mas podem achar Dom Casmurro de uma chatice sem fim (vejam só, o juízo de valores está em todo canto!). Só pelo renome devemos julgar um autor como se fosse uma grife, como se tudo que viesse dele fosse bom?

A literatura trabalha com a linguagem de um modo que se sobressai sobre aquela usada diariamente, recriando de um modo inesperado, metafórico, nosso cotidiano. O bom autor, teoricamente, é aquele que nos consegue fazer “entrar”, cada um a seu modo, em seu mundo. É aquele que tem grande domínio da língua, das suas potencialidades e, portanto, capaz de atingir muitos leitores, de diferentes níveis e classes sociais, ao mesmo tempo. Mas veja só que interessante. Será que um anúncio brasileiro de um carro, com sua linguagem altamente elaborada, não preencheria tais requisitos acima descritos? E a letra de uma boa música, cantada em toda a nação? E a mensagem do grafite na parede, lido diariamente por milhares de pessoas? E um blog disponível na Internet?

Diz-se que a principal função da literatura é proporcionar prazer e, que sua característica primordial é a representação da realidade. Porém, através da linguagem, proporciona também aos leitores o encontro com os diferentes fatores da cultura, tais como: transmitir informações, causar sensações, emoções, rejeições e, principalmente, atuar na educação e formação do homem como um ser social, promovendo aquisição do conhecimento e, possibilitando-lhe reconhecer a realidade em que vive representada no mundo ficcional. Pode ainda, integrar o leitor ao universo vivenciado pelas personagens, associando a realidade da obra às experiências pessoais.

O trabalho da literatura, de um modo geral, consiste em inovar, deixar a linguagem de lado para falar do cotidiano em uma linguagem própria, que pode representar diferentes sentidos e/ou interpretações para uma só palavra. E, através dessas palavras expressivas, o mundo real ganha uma nova significação. Pois, a linguagem cotidiana com a mesma rapidez com que pode ser compreendida, pode ser também esquecida; enquanto que a
linguagem literária é diferente, possui elementos próprios e diferentes. A linguagem comum é denotativa e espontânea; a literária segue regras e leis próprias, é conotativa, contínua, constante e persistente.

A função social da literatura visa ajudar o homem a entender tanto os seus conflitos, como os que a sociedade lhe impõe. Ler sempre é sinônimo de uma nova experiência, e para que haja um questionamento sobre essa experiência é preciso haver a interação do leitor com o texto.

É função da literatura, portanto, promover a leitura por prazer, que faça com que o leitor compreenda o texto como possível de múltiplos significados dentro das diferentes esferas: cultural, social, ideológica, histórica e política. E, ainda, desperte neste um sentimento agradável pela obra literária, que é capaz de transportá-lo a outros mundos possíveis.

Texto adaptado de SILVA, Ana Elma dos Santos. A prática de literatura no ensino médio: como inovar? 2012.

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