Exercícios de interpretação textual


INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

 

Texto I

Ganhamos a guerra, não a paz

Os físicos se encontram numa posição não muito diferente da de Alfred Nobel. Ele inventou o mais poderoso explosivo jamais conhecido até sua época, um meio de destruição por excelência. Para reparar isso, para aplacar sua consciência humana, instituiu seus prêmios à promoção da paz e às realizações pacíficas. Hoje(*), os físicos que participaram da fabricação da mais aterradora e perigosa arma de todos os tempos sentem-se atormentados por igual sentimento de responsabilidade, para não dizer culpa. E não podemos desistir de advertir e de voltar a advertir, não podemos e não devemos relaxar em nossos esforços para despertar nas nações do mundo, e especialmente nos seus governos, a consciência do inominável desastre que eles certamente irão provocar, a menos que mudem sua atitude em relação uns aos outros e em relação à tarefa de moldar o futuro.

Ajudamos a criar essa nova arma, no intuito de impedir que os inimigos da humanidade a obtivessem antes de nós, o que, dada a mentalidade dos nazistas, teria significado uma inconcebível destruição e escravização do resto do mundo. Entregamos essa arma nas mãos dos povos norte-americano e britânico, vendo neles fiéis depositários de toda a humanidade, que lutavam pela paz e pela liberdade. Até agora, porém, não conseguimos ver nenhuma garantia das liberdades que foram prometidas às nações no Pacto do Atlântico. Ganhamos a guerra, não a paz. As grandes potências, unidas na luta, estão agora divididas quanto aos acordos de paz. Prometeu-se ao mundo que ele ficaria livre do medo, mas, na verdade, o medo aumentou enormemente desde o fim da guerra. Prometeu-se ao mundo que ele ficaria livre da penúria, mas grandes partes dele se defrontam com a fome, enquanto outras vivem na abundância. (…)

Possa o espírito que motivou Alfred Nobel a criar sua notável instituição, o espírito de fé e confiança, de generosidade e fraternidade entre os homens, prevalecer na mente daqueles de cujas decisões dependem nossos destinos. Do contrário, a civilização humana estará condenada. (Albert Einstein, Escritos da maturidade. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994) (*) Este texto foi escrito em 1945, logo depois do fim da II Guerra Mundial.

1. Ao escrever esse texto, o grande físico Albert Einstein preocupou-se sobretudo em formular uma grave advertência contra

(A) a pacificação do mundo por meio da ação de governos totalitários.
(B) a perigosa instabilidade gerada pelo Pacto do Atlântico.
(C) o novo potencial belicoso da situação de pós-guerra.
(D) o poder de devastação representado pelo invento de Alfred Nobel.
(E) o espírito do armistício assinado pelas grandes potências.

2. Considere as seguintes afirmações:

I. A criação e a entrega da mais aterradora e perigosa arma de todos os tempos aos norte-americanos e britânicos se deram em meio a uma perigosa e disputada corrida armamentista.

II. Einstein mostra-se insatisfeito quanto aos termos em que se configurou o Pacto do Atlântico, um acordo em si mesmo tímido e incapaz de gerar bons resultados.

III. Einstein inclui-se entre os responsáveis pelo término da guerra e pela derrota dos nazistas, mas declina de qualquer responsabilidade quanto a uma futura utilização da nova e devastadora arma.

Em relação ao texto, está correto APENAS o que se afirma em
(A) I.
(B) II.
(C) III.
(D) I e II.
(E) II e III.

3. A atitude de vigilância, para a qual Einstein convoca a todos nesse texto, deve materializar-se, conforme deseja o grande físico,

(A) numa advertência contra os preocupantes riscos representados pela iminente reorganização dos nazistas.
(B) na conscientização dos vitoriosos quanto à necessidade de se entenderem e de assumirem suas responsabilidades diante do futuro.
(C) no cumprimento das exigências feitas pelos cientistas quando se propuseram a elaborar as condições do Pacto do Atlântico.
(D) na manutenção das auspiciosas condições políticas do pós-guerra, marcadas pela derrota dos nazistas.
(E) na constituição de um novo tratado que, indo de encontro ao Pacto do Atlântico, represente um esforço de real pacificação.

4. Quanto à sua construção interna, as frases Ganhamos a guerra, não a paz e As grandes potências, unidas na luta, estão agora divididas têm em comum .

(A) um jogo entre alternativas.
(B) uma relação de causa e efeito.
(C) a formulação de uma condicionalidade.
(D) a articulação de uma hipótese.
(E) a exploração de antíteses.

5. Considerando-se o contexto, traduz-se corretamente o sentido de uma expressão do texto em:

(A) numa posição não muito diferente da de Alfred Nobel = em atitude inteiramente similar à de Alfred Nobel.
(B) para aplacar sua consciência humana = para obliterar seu juízo sobre a humanidade.
(C) dada a mentalidade dos nazistas = em que pese a consciência dos nazistas.
(D) vendo neles fiéis depositários = reconhecendo-os como confiáveis guardiões.
(E) consciência do inominável desastre = concepção inevitável da tragédia.

6. Possa o espírito que motivou Alfred Nobel a criar sua notável instituição, o espírito de fé e confiança, de generosidade e fraternidade entre os homens, prevalecer na mente daqueles de cujas decisões dependem nossos destinos. Observa-se que na construção do período acima, se empregou o verbo

(A) poder como auxiliar do verbo criar.
(B) criar como auxiliar do verbo prevalecer.
(C) motivar como auxiliar de prevalecer.
(D) criar como auxiliar do verbo poder.
(E) poder como auxiliar do verbo prevalecer.

 
Texto II
Ciência e esoterismo
A astrologia é muito mais popular do que a astronomia. Um número muito maior de pessoas abre um jornal ou uma revista para consultar uma coluna astrológica do que para ler uma coluna sobre astronomia. E a astrologia não está sozinha: numerologia, quiromancia, cartas de tarô, búzios etc. também são extremamente populares.

Como físico, não cabe a mim explicar o porquê dessa irresistível atração pelo que obviamente está além do que chamamos fenômenos naturais. Mas posso ao menos oferecer uma conjectura. O fascínio pelo esotérico vem justamente de seu aspecto pessoal, privado: você paga a um profissional com conhecimentos ou “poderes” esotéricos para que ele fale sobre você, sua vida, seus problemas, seu futuro…

O problema com o esoterismo é que não temos nenhuma prova concreta, científica, de que certos fenômenos realmente ocorrem.  As “provas” que foram oferecidas até o momento – fotos, depoimentos pessoais, sessões demonstrativas e compilações estatísticas de dados – misteriosamente se recusam a sobreviver quando testadas no

laboratório sob o escrutínio do cientista ou após uma análise quantitativa mais detalhada. Uma das grandes armas da ciência contra o charlatanismo é justamente a possibilidade de repetirmos certos experimentos tantas vezes quantas desejarmos. Os cientistas não precisam “acreditar” nos resultados de outros cientistas; basta repetir o experimento em seu próprio laboratório, sob condições idênticas, e os mesmos resultados devem ser encontrados.

Seria realmente fascinante se houvesse uma força desconhecida que pudesse influenciar nosso comportamento (ou pelo menos indicar tendências) a partir de um arranjo cósmico em que nós, como indivíduos, participássemos ativamente, uma espécie de astronomia personalizada.

Mas, para mim, mais fascinante ainda é seguir os passos de outros cientistas e dedicar toda uma vida ao estudo dos fenômenos naturais, armado apenas com inspiração e razão. Ao compreendermos um pouco mais sobre o mundo à nossa volta, estaremos, também, compreendendo um pouco mais sobre nós mesmos e sobre nosso lugar neste vasto e misterioso Universo.
(Marcelo Gleiser, Retalhos cósmicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1999)

7. Observando-se alguns dos recursos utilizados na construção do texto, verifica-se que

(A) o emprego das aspas em “poderes” justifica-se do mesmo modo que em “provas”.
(B) a falta de marca pessoal na linguagem garante a objetividade da demonstração.
(C) as expressões astronomia personalizada e basta repetir o experimento são manifestações da ironia do autor.
(D) o emprego das aspas em “acreditar” deve-se à ênfase atribuída a uma ação afirmativa dos cientistas.
(E) o emprego da palavra inspiração, no final do texto, revela que o autor reviu e retificou sua posição contrária ao esoterismo.

8. Na argumentação que desenvolve em seu texto, o autor se vale dos seguintes procedimentos:

I. Não aceita a suposta popularização das crenças de natureza esotérica, considerando-a uma manipulação dos charlatões que têm interesse em propagar seus falsos poderes.

II. Afirma que os fenômenos esotéricos não são comprovados quando submetidos a testes rigorosamente científicos ou a análises largas e detalhadas.

III. Admite que a ciência é menos atraente que as práticas esotéricas, já que ela não se propõe a desvendar as grandes incógnitas do nosso Universo.

IV. Conclui que a ciência também tem seus encantos, embora aceite que os que a praticam não costumam se valer dos conhecimentos já conquistados dentro da tradição científica.

Em relação ao texto, está correto APENAS o que se afirma em

(A) I.
(B) II.
(C) III.
(D) I e II.
(E) III e IV.

9. Considerando-se o contexto, traduz-se corretamente o sentido de uma expressão do texto em:

(A) ao menos oferecer uma conjectura = pleitear, mesmo assim, uma comprovação.
(B) seu aspecto pessoal, privado = sua verdade íntima, inconfessável.
(C) arranjo cósmico = pretexto universal.
(D) sob o escrutínio do cientista = pela análise minuciosa do cientista.
(E) armado apenas com inspiração e razão = tão-somente com a fé e a perseverança.

Texto III
O Brasil entrou no século XXI justificando o lugar comum do século passado: continua sendo um país de contrastes. Isso é o que revelam os números iniciais do Censo 2000, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No último ano da década passada, em comparação com o primeiro – 1991 –, muito mais brasileiros estavam estudando, tinham carros, eletrodomésticos, telefones, luz, água encanada, esgoto e coleta de lixo, e muito menos brasileiros morriam antes de completar um ano de vida. A mortalidade infantil caiu 38%: de 48 por mil nascimentos para 29,6. A queda foi maior do que os especialistas haviam projetado no início da década.

Isso, a despeito de a maioria da população continuar vivendo com rendimentos franciscanos: pouco mais da metade dos 76,1 milhões de membros da população economicamente ativa ganhava até dois salários mínimos por mês (ou R$ 302,00 à data do recenseamento e R$ 400,00 hoje) e apenas 2,4% ganhavam mais de vinte salários mínimos, ou seja, R$ 4 000,00 – um salário relativamente modesto nas sociedades desenvolvidas. Por esse ângulo, pode-se dizer que o Brasil é um país igualitário: ostenta a dramática igualdade na pobreza.

Os números agregados escondem que o consumo se distribui de forma acentuadamente desigual pelo território e entre os diversos grupos de renda. Enquanto no Sul e no Sudeste os domicílios com carro somam mais de 40%, no Norte e no Nordeste não chegam a 15%. De certo modo, quem pode consumir bens duráveis acaba consumindo por si e por quem não pode. O desequilíbrio regional e social do consumo acompanha, obviamente, a concentração da capacidade aquisitiva.

Os dados que apontam para a intolerável persistência da igualdade na pobreza entre os brasileiros têm relação manifesta com o desempenho da economia. Se é verdade que, em matéria de expansão dos benefícios sociais e do acesso a bens indispensáveis no mundo contemporâneo, como o telefone, os anos 1990 foram uma década ganha, no que toca ao crescimento econômico foram uma década das mais medíocres, desde a transformação do País em sociedade industrial. Entre 1991 e 2000, o Brasil cresceu, em média, parcos 2,7% ao ano. Mesmo em 1994, o melhor ano do período, o Produto Interno Bruto (PIB) não chegou a 6% – muito abaixo dos picos registrados na década de 1970, a do “milagre brasileiro”. É óbvio que a retomada do desenvolvimento é condição sine qua para a elevação da renda do povo.
(Adaptado de O Estado de S. Paulo, maio/2002)

10. De certo modo, quem pode consumir bens duráveis acaba consumindo por si e por quem não pode. A afirmação acima aponta para

(A) a melhoria real do padrão de vida da população brasileira, registrando existência de consumo mesmo entre os mais pobres.
(B) resultados estatísticos aparentemente otimistas, mas que deixam de mostrar dados pouco animadores da situação econômica e social da população brasileira.
(C) um equilíbrio final da capacidade de consumo da população nas várias regiões brasileiras, igualando os resultados de cada uma delas.
(D) o paradoxo que resulta dos dados do último censo, pois eles indicam o consumo de bens duráveis por uma população que não tem poder aquisitivo.
(E) a falsidade do resultado de certas pesquisas, cujos dados desvirtuam a realidade, especialmente a da classe social mais desfavorecida.

11. Considere as afirmativas abaixo, a respeito do texto. O Censo 2000

I. indica o avanço do Brasil, idêntico ao de algumas sociedades desenvolvidas, especialmente quanto à garantia de emprego, apesar de um valor modesto para o salário mínimo.

II. apresenta índices positivos de melhoria na qualidade de vida do povo brasileiro, ao lado de disparidades acentuadas, em todo o território nacional.

III. assinala um aumento geral do poder aquisitivo do povo brasileiro, reduzindo a um mínimo as diferenças regionais.

Está correto o que se afirma SOMENTE em:
(A) I e II
(B) II e III
(C) I
(D) II
(E) III

12. A afirmação no segundo parágrafo: “Por esse ângulo, pode-se dizer que o Brasil é um país igualitário”. É correto afirmar que a conclusão acima tem um caráter

(A) acentuadamente irônico, pela constatação que se segue a ela.
(B) bastante otimista, por ter sido possível constatar melhorias na distribuição de renda.
(C) de justificado orgulho, pela melhoria da qualidade de vida no Brasil.
(D) de extremo exagero, considerando-se os dados indicativos do progresso brasileiro.
(E) pessimista, tendo em vista a impossibilidade de aumento do salário mínimo.

13. A queda foi maior do que os especialistas haviam projetado no início da década. O emprego da forma verbal grifada na frase acima indica, no contexto,

(A) uma incerteza em relação a um fato hipotético.
(B) um fato consumado dentro de um tempo determinado.
(C) a repetição de um fato até o momento da fala.
(D) uma ação passada anterior a outra, também passada.
(E) uma ação que acontece habitualmente.

14. O segundo parágrafo do texto está ligado ao primeiro

(A) por tratar-se de uma explicação das afirmações apresentadas de início.
(B) pela condição imposta no início desse segundo parágrafo, em relação aos dados observados no Censo.
(C) por ser uma síntese do que vem sendo desenvolvido.
(D) pela continuidade da mesma ideia, desenvolvida em ambos.
(E) por uma ressalva, marcada pelo uso da expressão a despeito de.

15. Há, no texto, relação de causa e efeito entre

(A) retomada do desenvolvimento e elevação da renda do povo.
(B) a década do “milagre brasileiro” e a persistência da situação de pobreza do povo.
(C) situação econômica do Brasil no século XX e a que se apresenta no início do século XXI.
(D) queda dos índices de mortalidade infantil e valor do salário mínimo.
(E) consumo maior no Sul e no Sudeste e acentuadamente menor no Norte e no Nordeste.

16. A mortalidade infantil caiu 38%: de 48 por mil nascimentos para 29,6. O emprego dos dois pontos assinala
(A) uma restrição à afirmação do período anterior.
(B) a ligação entre palavras que formam uma cadeia na frase.
(C) a inclusão de um segmento explicativo.
(D) a citação literal do que consta no relatório do IBGE.
(E) a brusca interrupção da seqüência de idéias.

17. Os números iniciais do Censo 2000 revelam melhorias. A queda das taxas demortalidade infantil foi maior do que o esperado. Boa parte da população brasileira continua vivendo na pobreza.

As frases acima formam um único período, com correção e lógica, em:
(A) Se as taxas de mortalidade infantil entraram em queda maior do que era esperada, a população brasileira continua vivendo na pobreza, apesar das melhorias que o Censo 2000, revelam em seus dados iniciais.
(B) A população brasileira em boa parte continua vivendo na pobreza, os números iniciais do Censo 2000 revelam as melhorias, onde as taxas de mortalidade infantil em queda, maior do que se esperava.
(C) Com a queda das taxas de mortalidade infantil, e os números iniciais do Censo 2000 revela que foi maior que o esperado, mas boa parte da população brasileira continua vivendo na pobreza.
(D) Os números iniciais do Censo 2000 melhoraram, com a queda das taxas de mortalidade infantil, que foi maior do que se esperavam, onde boa parte da população brasileira continua vivendo na pobreza.
(E) Boa parte da população brasileira continua vivendo na pobreza, conquanto os números iniciais do Censo 2000 revelem melhorias, como a queda das taxas de mortalidade infantil, maior do que o esperado.

Texto IV
A farsa — se existe rigorosamente — é, no momento atual, o menor problema que temos de enfrentar. Sabemos, hoje, que a repetição histórica tem-nos conduzido muito mais a novas tragédias — não raro, aproximando-se da barbárie — do que a ações burlescas; ou ao menos há uma certa identificação entre ambas, sendo aquelas mais penosas do que estas. Se tomarmos a globalização como referência, a pantomima atribuída a ela não difere muito de sua face trágica. Mas a última excede a primeira à medida que revela o ângulo visível de sua aparente inocência. Só se percebe o que acontece, efetivamente, quando os olhos (e a razão) dão conta da realidade em toda sua crueza.
(Fernando Magalhães, “A globalização e as lições da história”)

18- Em relação ao sentido das palavras e expressões do texto, assinale a opção correta.

a) A palavra “barbárie” está associada à ideia de barbarismo, ou seja, à inadequação de linguagem.

b) A expressão “burlescas” está associada à ideia de heroicas.

c) A palavra “pantomima” está sendo utilizada em seu sentido conotativo de vanguarda, modernidade.

d) A expressão “à medida que” pode ser substituída por à proporção que, sem prejuízo gramatical para o período.

e) A expressão “sua crueza” refere-se à palavra “razão”.

Texto VI
Li que a espécie humana é um sucesso sem precedentes. Nenhuma outra com uma proporção parecida de peso e volume se iguala à nossa em termos de sobrevivência e proliferação. E tudo se deve à agricultura. Como controlamos a produção do nosso próprio alimento, somos a primeira espécie na história do planeta a poder viver fora de seu ecossistema de nascença. Isso nos deu mobilidade e a sociabilidade que nos salvaram do processo de seleção, que limitou outros bichos de tamanho equivalente. É por isso que não temos mudado muito, mas também não nos extinguimos.
(Luiz Fernando Veríssimo, Recursos Humanos, in: O Desafio Ético, org. de Ari Roitman, com adaptações)

19- Considerando as idéias do texto, assinale as inferências como verdadeiras (V) ou falsas (F) e marque a correta opção em seguida.
( ) Mede-se o sucesso pela capacidade de sobrevivência e proliferação.
( ) Se a espécie humana tivesse outro peso e volume não teria sobrevivido.
( ) Viver fora do ecossistema de nascença depende da capacidade de criar o próprio alimento.
( ) O processo de seleção das espécies é que limita a mobilidade e a sociabilidade.
( ) A história da espécie humana poderia ser outra se não houvesse agricultura.
( ) Poucas mudanças trazem como conseqüência a não-extinção da espécie.

A seqüência correta é:

a) V, V, V, F, F, V

b) V, F, F, V, V, F

c) F, F, V, V, F, V

d) F, V, F, V, V, F

e) V, F, V, F, V, F

Texto VII
A racionalidade comunicativa se tornou possível com o advento da modernidade, que emancipou o homem do jugo da tradição e da autoridade, e permitiu que ele próprio decidisse, sujeito unicamente à força do melhor argumento, que proposições são ou não aceitáveis, na tríplice dimensão: da verdade (mundo objetivo), da justiça (mundo social) e da veracidade (mundo subjetivo). Ocorre que simultaneamente com a racionalização do mundo vivido, que permitiu esse aumento de autonomia, a modernidade gerou outro processo de racionalização, abrangendo a esfera do Estado e da Economia, que acabou se automatizando do mundo vivido e se incorporou numa esfera “sistêmica”, regida pela razão instrumental. A racionalização sistêmica, prescindido da coordenação comunicativa das ações e impondo aos indivíduos uma coordenação automática, independente de sua vontade, produziu uma crescente perda de liberdade.

20. De acordo com o texto, na modernidade:

a) a racionalização comunicativa valorizou o trabalho

b) o homem pôde decidir quais seriam os novos valores aceitáveis

c) o advento da racionalidade emancipou o homem do jugo da tradição e da autoridade

d) o homem, ao perder a tradição, perdeu a autoridade

e) a racionalidade impeliu o homem ao jugo da tradição

 

21. A racionalização do mundo vivido permitiu:

a) a tríplice dimensão da verdade

b) a aceitação da autoridade

c) a valorização do trabalho

d) um aumento da autonomia

e) a busca da justiça social

 

22. A modernidade gerou dois processos da racionalização:

a) a do mundo vivido e a sistêmica

b) a subjetiva e a objetiva

c) a instrumental e a da Economia

d) a da tradição e a da autoridade

e) a da comunicação e a do mundo vivido

 

23. A racionalização regida pela razão institucional:

a) veio explicar a tradição e a autoridade

b) é imprescindível para a comunicação humana

c) impõe aos indivíduos a comunicação das ações

d) ganhou dimensão maior por causa do Estado

e) fez decrescer a liberdade

Texto VIII
A liberdade e o consumo

Quantos morreram pela liberdade de sua pátria? Quantos foram presos ou espancados pela liberdade de dizer o que pensam? Quantos lutaram pela libertação dos escravos?
No plano intelectual, o tema da liberdade ocupa as melhores cabeças, desde
Platão e Sócrates, passando por Santo Agostinho, Spinoza, Locke, Hobbes, Hegel, Kant, Stuart Mill, Tolstoi e muitos outros. Como conciliar a liberdade com a inevitável ação restritiva do Estado? Como as liberdades essenciais se transformam em direitos do cidadão? Essas questões puseram em choque os melhores neurônios da filosofia, mas não foram as únicas a galvanizar controvérsias.
Mas vivemos hoje em uma sociedade em que a maioria já não sofre agressões a essas liberdades tão vitais, cuja conquista ou reconquista desencadeou descomunais energias físicas e intelectuais. Nosso apetite pela liberdade se aburguesou. Foi atraído (corrompido?) pelas tentações da sociedade de consumo.
O que é percebido como liberdade para um pacato cidadão contemporâneo que vota, fala o que quer, vive sob o manto da lei (ainda que capenga) e tem direito de mover-se livremente?
O primeiro templo da liberdade burguesa é o supermercado. Em que pesem as angustiantes restrições do contracheque, são as prateleiras abundantemente supridas que satisfazem a liberdade do consumo (não faz muitas décadas, nas prateleiras dos nossos armazéns ora faltava manteiga, ora leite, ora feijão). Não houve ideal comunista que resistisse às tentações do supermercado. Logo depois da queda do Muro de Berlim, comer uma banana virou ícone da liberdade no Leste Europeu.
A segunda liberdade moderna é o transporte próprio. BMW ou bicicleta, o que conta é a sensação de poder sentar-se ao veículo e resolver em que direção partir. Podemos até não ir a lugar algum, mas é gostoso saber que há um veículo parado à porta, concedendo permanentemente a liberdade de ir, seja aonde for. Alguém já disse que a Vespa e a Lambretta tiraram o fervor revolucionário que poderia ter levado a Itália ao comunismo.
A terceira liberdade é a televisão. É a janela para o mundo. É a liberdade de escolher os canais (restritos em países totalitários), de ver um programa imbecil ou um jogo, ou estar tão perto das notícias quanto um presidente da República – que nos momentos dramáticos pode assistir às mesmas cenas pela CNN. É estar próximo de reis, heróis, criminosos, super atletas ou cafajestes metamorfoseados em apresentadores de TV.
Uma “liberdade” recente é o telefone celular. É o gostinho todo especial de ser capaz de falar com qualquer pessoa, em qualquer momento, onde quer que se esteja.
Importante? Para algumas pessoas, é uma revolução no cotidiano e na profissão. Para outras, é apenas o prazer de saber que a distância não mais cerceia a comunicação, por boba que seja.
Há ainda uma última liberdade, mais nova, ainda elitizada: a internet e o correio eletrônico. É um correio sem as peripécias e demoras do carteiro, instantâneo, sem remorsos pelo tamanho da mensagem (que se dane o destinatário do nosso attachment megabáitico) e que está a nosso dispor, onde quer que estejamos. E acoplado a ele vem a web, com sua cacofonia de informações, excessivas e desencontradas, onde se compra e vende, consomem-se filosofia e pornografia, arte e empulhação. Causa certo desconforto intelectual ver substituídas por objetos de consumo as discussões filosóficas sobre liberdade e o heroísmo dos atos que levaram à sua preservação em múltiplos domínios da existência humana. Mas assim é a nossa natureza, só nos preocupamos com o que não temos ou com o que está ameaçado. Se há um consolo nisso, ele está no saber que a preeminência de nossas liberdades consumistas marca a vitória de havermos conquistado as outras liberdades, mais vitais. Mas, infelizmente, deleitar-se com a alienação do consumismo está fora do horizonte de muitos. E, se o filósofo Joãosinho Trinta tem razão, não é por desdenhar os luxos, mas por não poder desfrutá-los.
Cláudio de Moura Castro

24. O primeiro parágrafo do texto apresenta:

(A) uma série de perguntas que são respondidas no desenrolar do texto;
(B) uma estrutura que procura destacar os itens básicos do tema discutido no texto;
(C) um questionamento que pretende despertar o interesse do leitor pelas respostas;
(D) um conjunto de perguntas retóricas, ou seja, que não necessitam de respostas;
(E) umas questões que pretendem realçar o valor histórico de alguns heróis nacionais.

25. Nos itens abaixo, o emprego da conjunção OU (em maiúsculas) só tem nítido valor alternativo em:

(A) “Quantos foram presos OU espancados pela liberdade de dizer o que pensam?”;
(B) “A segunda liberdade moderna é o transporte próprio, BMW OU bicicleta…”;
(C) “…de ver um programa imbecil ou um jogo, OU estar tão perto das notícias…”;
(D) “…só nos preocupamos com o que não temos OU com o que está ameaçado.”;
(E) “É estar próximo de reis, heróis, criminosos, superatletas OU cafajestes…”.

26. “Como conciliar a liberdade com a inevitável ação restritiva do Estado?”; nesse segmento do texto, o articulista afirma que:

(A) o Estado age obrigatoriamente contra a liberdade;
(B) é impossível haver liberdade e governo ditatorial;
(C) ainda não se chegou a unir os cidadãos e o governo;
(D) cidadãos e governo devem trabalhar juntos pela liberdade;
(E) o Estado é o responsável pela liberdade da população.

27. “O primeiro templo da liberdade burguesa é o supermercado. Em que pesem as angustiantes restrições do contracheque, são as prateleiras abundantemente supridas que satisfazem a liberdade do consumo…”; o segmento sublinhado corresponde semanticamente a:

(A) as despesas do supermercado são muito pesadas no orçamento doméstico;
(B) os salários não permitem que se compre tudo o que se deseja;
(C) as limitações de crédito impedem que se compre o necessário;
(D) a inflação prejudica o acesso da população aos bens de consumo;
(E) a satisfação de comprar só é permitida após o recebimento do salário.

28. “Não houve ideal comunista que resistisse às tentações do supermercado”.; com esse segmento do texto o autor quer dizer que:

(A) todo ideal comunista se opõe aos ideais capitalistas;
(B) a ideologia comunista sofre pressões por parte dos consumidores;
(C) os supermercados socialistas são menos variados que os do mundo capitalista;
(D) o ideal comunista ainda resiste à procura desenfreada por bens de consumo;
(E) as tentações do supermercado abalaram as estruturas capitalistas.

29. “É a liberdade de escolher os canais (restritos em países totalitários),…”; o segmento sublinhado significa que:

(A) nos países totalitários a censura impede o acesso à programação capitalista;
(B) o número de canais disponíveis é bem menor do que nos países não-totalitários;
(C) a televisão, nos países totalitários, é bem de que só poucos dispõem;
(D) nos países totalitários todos os canais são do sistema de TV a cabo;
(E) nos países totalitários, a TV não sofre censura governamental.

Texto IX
Leia atentamente o texto a seguir para responder às duas próximas questões:

“Os principais da agricultura brasileira referem-se muito mais à diversidade dos impactos causados pelo caráter truncado da modernização, do que à persistência de segmentos que dela teriam ficado imunes. Se hoje existem milhões de estabelecimentos agrícolas marginalizados, isso se deve muito mais à natureza do próprio processo de modernização, do que à sua falta de abrangência”.
(Folha de S. Paulo, Editoral, fevereiro/2001)

30. Podemos afirmar, de acordo com o texto acima, que:

a) O processo de modernização deve tornar-se mais abrangente para implementar a agricultura.

b) Os problemas da agricultura resultam do impacto causado pela modernização progressiva do setor.

c) Os problemas da agricultura resultam da inadequação do processo de modernização do setor.

d) Segmentos do setor agrícola recusam-se a adotar processos de modernização.

e) Os problemas da agricultura decorrem da não-modernização de estabelecimentos agrícolas marginalizados.

 

31.No trecho “à persistência de segmentos que dela teriam ficado imunes”, a expressão “teriam ficado” exprime:

a) Desejo de que esse fato não tenha ocorrido.

b) A certeza de que a imunidade à modernização é própria de estabelecimentos agrícolas marginalizados.

c) A certeza de que esse fato realmente não ocorreu.

d) A hipótese de que esse fato tenha ocorrido.

e) A possibilidade de a imunidade à modernização ser decorrente de certos segmentos.

 

Texto X
Num de seus poemas, Carlos Drummond de Andrade refere-se à rotina dos “homens que voltam para casa”, que “levam o jornal embaixo do braço”, depois de mais de um dia de trabalho. Sugere o poeta que esses homens cansados, depois do jantar, vão ao jornal e “soletram o mundo, sabendo que o perdem”.
“Soletram o mundo”: é um belo modo que Drummond encontrou para expressar seu ponto de vista. Num jornal, a vida não é a vida, é um conjunto de letras impressas, que nos cabe apenas soletrar. Quem passa os olhos pelas noticias não vive os fatos, apenas percorre as letras, as sílabas, as palavras em que os fatos se converteram. Daí se entende porque o poeta concluiu: “sabendo que o perdem”. Sim, parece que a simples leitura do jornal, longe de ser uma forma de participarmos do mundo, é um modo de perdê-lo. Por quê? Porque, diante das noticias de jornal, somos meros contempladores da vida, assistindo sentados à variedade do noticiário. Estar bem informado não é, ainda,viver. O poeta Carlos Drummond de Andrade, funcionário publico, homem tímido, de hábitos metódicos e rotineiros, conhece de perto esse estado de pura observação das coisas, forma de perder o mundo, não deixa de dar um belo recado para quem julga que as informações sejam essenciais em si mesmas. De que valem elas, se não nos orientam para algum tipo de ação? Embora informadíssimos, perdemos o mundo quando apenas nos dispomos a soletrá-lo.
(Celso de Oliveira, inédito)

32. É correto afirmar que o autor do texto deu a seguinte interpretação ao verso “soletram o mundo, sabendo que o perdem”, de Carlos Drummond de Andrade

a) Quem se fixa nas notícias de jornal sabe que esse pode ser um modo de afastar do mundo, em vez de participar dele.

b) As notícias do mundo, para serem de fato compreendidas, não podem ser lidas apressadamente.

c) Os homens que leem jornal metodicamente acreditam que esse é um modo ativo de participar do que ocorre no mundo.

d) Quando desabituados à leitura, os homens soletram o mundo, não podendo por isso compreender bem as noticias de um jornal.

e) Os fatos noticiados num jornal só se tornam relevantes se forem analisados em seus mínimos elementos.

 

33. Considere as seguintes afirmações.

I- As informações dadas sobre o poeta Carlos Drummond de Andrade, no terceiro parágrafo, aproximam-nos dos “homens que voltam para casa”, de que fala em um de seus poemas.
II- O autor do texto afirma que as informações sobre os fatos essenciais não costumam ser publicadas.
III- A expressão “meros contempladores de vida” caracteriza a quem apenas “percorre as letras, as sílabas, as palavras em que os fatos se converteram”.

Está correto somente o que vem afirmando em

a) I.

b) II

c) I e II.

d) I e III.

e) II e III

 

34. Indique a afirmação correta, considerando o sentido do conjunto do texto.

a) A expressão “hábitos metódicos” seria contraditória, se utilizada para caracterizar a rotina dos “homens que voltam para casa” e “vão ao jornal”.

b) A expressão “longe de ser”, utilizada no segundo parágrafo, poderia ser substituída por “não deixa de ser”, sem prejuízo para o que afirma o autor.

c) As expressões “metódico” e “rotineiro” caracterizam uma pessoa volúvel em seus atos.

d) A frase “Estar bem informado não é, ainda, viver” afirma o contrário do que diz o ultimo período do texto.

e) O “belo recado” a que se refere o autor, no ultimo parágrafo, tem como destinatário todo aquele que acha que o essencial é estar bem informado.

 

35. Quanto à função sintática, e dentro do terceiro parágrafo:

a) “funcionário público” e “homem tímido” têm classificações diferentes.

b) O termo “esse estado” é sujeito de “conhece”.

c) O termo ,“informadíssimos” refere-se ao sujeito de “perdemos”.

d) As formas verbais “deixa” e “julga” tem o mesmo sujeito.

e) As formas verbais “valem” e “orientam” têm distintos sujeitos.

 

36. A frase em que o termo destacado tem a função de complemento verbal é:

a) somos meros contempladores da vida.

b) Soletrar notícias não é o mesmo que participar dos fatos.

c) O poeta conhece de perto esse estado da pura observação das coisas.

d) As informações não são essenciais em si

e) Assistimos sentados à variedade do noticiário.

 

37. No período “Embora informadíssimos, perdemos o mundo quando apenas nos dispomos a soletrá-lo”, a oração em destaque conservará o mesmo sentido e o mesmo valor sintático se substituirmos embora pela expressão:

a) desde que estejamos.

b) Porque estamos.

c) Uma vez que estejamos.

d) Mesmo estando.

e) Já que estamos.

 

Texto XI

 “Desde os seus primeiros dias, o ano de 1919 trouxe uma inusitada excitação às ruas de São Paulo. Era alguma coisa além da turbulência instintiva, que o calor um tanto tardio do verão quase tropical da cidade naturalmente incitava nos seus habitantes. De tal modo esse novo estado de disposição coletiva era sensível, que os paulistanos em geral, surpresos consigo mesmos, e os seus porta-vozes informais em particular, os cronistas, se puseram a especular sobre ele”.

(Autor desconhecido)

 

38. Considere as seguintes afirmativas sobre o uso de artigos no texto.

I- Se suprimíssemos o primeiro artigo “os” do texto, isso não acarretaria qualquer erro, já que a ocorrência de artigo antes de possessivo não é obrigatória na língua portuguesa.

II- Se substituíssemos o artigo “uma”, no primeiro período, por “a”, isso não acarretaria qualquer alteração de significado, porque ambos desempenham a mesma função semântica e são do mesmo gênero gramatical.

III- Se suprimíssemos o artigo “um”, no segundo período, isso não acarretaria qualquer erro, porque no contexto pode-se usar igualmente “um tanto” e “tanto”.

Podemos afirmar que estão corretas:

a) apenas I.

b) apenas II.

c) apenas III.

d) apenas I e III.

e) todas estão corretas.

 

39.Assinale a opção que apresenta sinônimos convenientes para as palavras “inusitada”, “turbulência” e “sensível” sem alterar significativamente os respectivos sentidos.

a) Estranha, ventania, perceptível;

b) Exagerada, perturbação, suscetível;

c) Estranha, perturbação, suscetível;

d) Exagerada, ventania, perceptível.

e) Estranha, perturbação, perceptível.

 

40. O trecho “De tal modo… sensível”, no último período pode ser reescrito de várias maneiras. Assinale aquela em que há alteração do significado original.

a) Era de tal modo sensível esse novo estado de disposição coletiva.

b) De tal modo era sensível esse novo estado de disposição coletiva.

c) Esse novo estado de disposição coletiva era de tal modo sensível.

d) Esse novo estado de disposição coletiva de tal modo era sensível.

e) De tal modo sensível esse novo estado era de disposição coletiva.

 

41. Assinale a opção correta sobre a razão do uso das duas últimas vírgulas do texto acima.

a) Marcam a separação de adjunto adverbial deslocado.

b) Marcam a separação de itens de uma série.

c) Marcam um vocativo.

d) Marcam um aposto.

e) Marcam um sujeito deslocado.

 

Texto XII

 As marcas do bem

Nos anos 30, Charles Chaplin empenhava toda a sua criatividade na produção de filmes como Tempos Modernos. Na obra, que se passa durante a Depressão Econômica, o genial Carlitos torna-se operário de uma grande indústria e vira líder grevista por acaso. O filme é uma crítica à industrialização desenfreada, às relações desumanas nas linhas da produção e ao descaso com os deserdados em geral, especialmente os operários.

A engraçada – nem por isso pouco ácida – crítica de Carlitos já não cabe a um grupo de empresas que, nos anos mais recentes, introduziram nos seus planos estratégicos e a preocupação com a responsabilidade social. Essa nova postura pressupõe o resgate de valores, como o humanitarismo e a solidariedade, além de adoção de princípios éticos na sua relação com empregados, clientes, fornecedores, comunidade e meio ambiente. São empresas que abandonaram a posição acomodada de doar um chefe, periodicamente, a instituições em apuros. Essa postura foi substituída por outra, “na qual o aprendizado coletivo é um dos itens mais importantes”, na definição de Guilherme Leal, presidente do conselho consultivo do Instituto Ethos, entidade fundada recentemente para aglutinar empresários que compartilham idéias parecidas, quando o assunto é responsabilidade social.

Nessa nova concepção de apoio, o dinheiro quase nunca chega sozinho às entidades sociais. Junto com ele, os empresários transferem o aprendizado que acumulam ao longo dos anos no próprio gerenciamento de seus negócios. “Queremos fortalecer as entidades que apoiamos”, diz Antônio Meireles, diretor-presidente de uma das empresas associadas ao Instituto Ethos. Há, pelo menos, duas conseqüências dessa postura, que está muito distante do “paternalismo” e da caridade descompromissada. Uma delas é o surgimento de instituições bem gerenciadas e que, por isso mesmo têm mais condições de captar recursos na sociedade. Par destacá-las já existe até um prêmio, o “Bem Eficiente”.

O apoio a projetos que nascem na própria comunidade é propriedade das empresas socialmente solidárias. Um dos exemplos é o programa Crer para Ver. Mantido pela Fundação Abrinq Pelos Direitos da Criança, financiou, em 1998, projetos em 1.103 escolas públicas, localizadas em 16 estados, atendendo a 154.000 crianças. Todas as idéias vieram da comunidade e foram submetidas a análise de um comitê técnico. O dinheiro para manter o programa foi captado com a venda de cartões de Natal.

As experiências vividas no trabalho comunitário enriquecem também o dia-a-dia dentro das empresas. Essa troca é possível porque algumas corporações liberam empregados para ir a campo e fazer trabalho social.

Os motivos que levam as empresas adotarem posturas solidárias não são necessariamente humanitários, mas é inegável que seus projetos aglutinam pessoas dispostas a doar parte de seu tempo e experiência a quem nasce com a sina de perdedor em uma cidade cada vez mais excludente. O consumidor está atento e prefere as marcas de quem faz o bem. No Brasil, ainda não existem dados sobre isso, mas, nos Estados Unidos, pesquisa mostram que mais de 60% das pessoas optam por artigos de fabricantes “politicamente corretos”. Os benefícios à imagem são inegáveis. O diferencial competitivo também. Do lado dos colaboradores, há mais envolvimento.

(Ícaro Brasil, nº 172, dezembro / 98 – com adaptações.)

 

42. Com referência à tipologia textual, o texto:

a) é fundamentalmente argumentativo; o redator posiciona-se favoravelmente ao comprometimento de empresas com os problemas sociais, pelo resgate de valores humanitários e solidários;

b) é essencialmente a descrição do programa Crê para Ver, pois quantifica as metas alcançadas ao longo de um ano de atividades;

c) compara, narrando a história do tratamento dado à questão social nas últimas seis décadas, os resultados de pesquisas acerca do assunto no Brasil e nos Estados Unidos da América;

d) é principalmente dissertativo porque desenvolve o assunto das relações desumanas na sociedade industrial contemporânea, exemplificando com iniciativas no sentido da solução desse problema;

e) é uma propaganda do Instituto Ethos, pois visa estimular os empresários a adquirirem seus produtos incentivando o consumo.

 

43. De acordo com as idéias do texto, assinale a opção correta.

a) Charles Chaplin com “filmes como Tempos Modernos” criticava as causas da Depressão Econômica: a industrialização desenfreada, as relações de trabalho desumanas e o descaso com os empregados.

b) Atualmente, não há mais espaço para a crítica de Carlitos, pois as empresas “introduziram nos seus planos estratégicos a preocupação com a responsabilidade social”.

c) O “dinheiro quase nunca chega sozinho às entidades sociais”: em geral, os próprios empresários o levam.

d) O programa Crer para Ver, por ter sido criado por empresas, não constitui um exemplo de “experiências vividas no trabalho comunitário”.

e) Embora as razões das empresas não tenham sempre caráter humanitário, a postura empresarial solidária por elas adotada leva o consumidor a optar por produtos ligados a esse tipo de ação.

 

44. Segundo o texto, são politicamente corretas:

a) todas as experiências vividas no trabalho comunitário, iniciando com Carlitos, na década de 30;

b) todas as razões que levam as empresas adotarem postura solidária;

c) as ações de empresas preocupadas com a responsabilidade social que, fugindo da postura paternalista, propõem o humanitarismo e a solidariedade;

d) as trocas que algumas corporações fazem com os empregados, liberando-os da carga horária contratual para a prestação de serviços de assistência social;

e) somente as iniciativas que visam ao bem-estar da empresa e também dos empregados e de seus familiares.

 

45. No texto, não se estabelece nenhuma relação entre:

a) trabalho e alienação;

b) capital e educação;

c) industrialização e desumanização;

d) economia e ética;

e) empresariado e responsabilidade social.

 

46. Não serão respeitadas as idéias do texto I caso se substitua:

a) “empenhava” por aplicava;

b) “desenfreada” por descomedida;

c) descompromissada” por descomprometida;

d) “análise” por apreciação;

e) “liberam” por concedem.

 

47. Assinale a opção correta quanto à regência e ao emprego do sinal indicativo da crase:

a) O filme de Carlitos traça a crítica à um processo de industrialização desenfreado.

b) O texto manifesta-se contrário às relações desumanas nas linhas de produção e à indiferença para com as camadas deserdadas, na sociedade em geral.

c) A crítica de Carlitos não se sustenta frente a mais de uma dezena de empresa que, às vezes, introduzem para os seus planos estratégias visando a minimização dos problemas atinentes as conjunturas sociais.

d) A contribuição pecuniária quase nunca chega sozinha àquelas entidades sociais favorecidas; junto com ela, as empresas transferem na aprendizagem acumulada no longo dos anos.

e) O apoio à iniciativas pertinentes a própria comunidade é prioridade junto as entidades socialmente solidárias.

 

Texto XIII

 Os velhos das cidadezinhas do interior parecem muito mais plenamente velhos que os das metrópoles. Não se trata da idade real de uns e outros, que pode até ser a mesma, mas dos tempos distintos que eles parecem habitar. Na agitação dos grandes centros, até mesmo a velhice parece ainda estar integrada na correria; os velhos guardam alguma ansiedade no olhar, nos modos, na lentidão aflita de quem se sente fora do compasso. Na calmaria das cidades pequeninas, é como se a velhice de cada um reafirmasse a que vem das montanhas e dos horizontes, velhice quase eterna, pousada no tempo.

Vejam-se as roupas dos velhinhos interioranos: aquele chapéu de feltro manchado, aquelas largas calças de brim cáqui, incontavelmente lavadas, aquele puído dos punhos de camisas já sem cor – tudo combina admiravelmente com a enorme jaqueira do quintal, com a generosa figueira da praça, com as teias no campanário da igreja. E os hábitos? Pica-se o fumo de corda, lentamente, com um canivete herdado do século passado, enquanto a conversa mole se desenrola sem pressa e sem destino.

Na cidade grande, há um quadro que se repete mil vezes ao dia, e que talvez já diga tudo: o velhinho, no cruzamento perigoso, decide-se, enfim, a atravessar a avenida, e o faz com aflição, um braço estendido em sinal de pare aos motoristas apressados, enquanto amiúda o que pode o próprio passo. Parece suplicar ao tempo que diminua seu ritmo, que lhe dê a oportunidade de contemplar mais demoradamente os ponteiros invisíveis dos dias passados, e de sondar com calma, nas nuvens mais altas, o sentido de sua própria história.

Há, pois, velhices e velhices – até que chegue o dia em que ninguém mais tenha tempo para de fato envelhecer.

Celso de Oliveira.

 

48. A frase “Os velhos das cidadezinhas do interior parecem muito mais plenamente velhos que os das metrópoles” constitui uma:

a) impressão que o autor sustenta ao longo do texto, por meio de comparações.

b) impressão passageira, que o autor relativiza ao longo do texto.

c) falsa hipótese, que a argumentação do autor demolirá.

d) previsão feita pelo autor, a partir de observações feitas nas grandes e nas pequenas cidades.

e) opinião do autor, para quem a velhice é mais opressiva nas cidadezinhas que nas metrópoles.

 

49. Indique a afirmação INCORRETA em relação ao texto:

a) roupas, canivetes, árvores e campanário são aqui utilizados como marcas da velhice.

b) autor julga que, nas cidadezinhas interioranas, a vida é bem mais longa que nos grandes centros.

c) Hábitos como o de picar fumo de corda denotam relações com o tempo que já não existem nas metrópoles.

d) que um velhinho da cidade grande parece suplicar é que lhe seja concedido um ritmo de vida compatível com sua idade.

e) autor sugere que, nas cidadezinhas interioranas, a velhice parece harmonizar-se com a própria natureza.

 

50. O sentido do último parágrafo do texto deve ser assim entendido:

a) Do jeito que as coisas estão, os velhos parecem não ter qualquer importância.

b) Tudo leva a crer que os velhos serão cada vez mais escassos, dado o atropelo da vida moderna.

c) prestígio do que é novo é tão grande que já ninguém repara na existência dos velhos.

d) A velhice nas cidadezinhas do interior é tão harmoniosa que um dia ninguém mais sentirá o próprio envelhecimento.

e) No ritmo em que as coisas vão, a própria velhice talvez não venha a ter tempo para tomar consciência de si mesma.

 

51. Indique a alternativa em que se traduz corretamente o sentido de uma expressão do texto, considerado o contexto.

a) “parecem muito mais plenamente velhos” = dão a impressão de se ressentirem mais dos males da velhice.

b) “guardam alguma ansiedade no olhar” = seus olhos revelam poucas expectativas.

c) “fora do compasso” = num distinto andamento.

d) “a conversa mole se desenrola” = a explanação é detalhada.

e) “amiúda o que pode o próprio passo” = deve desacelerar suas passadas.

 

Gabarito

Interpretação de texto

1.C 2.A 3.B 4.E 5.D 6.E 7.A 8.B 9.D 10.B 11.D 12.A 13.D 14.E 15.A 16.C 17.E 18.D 19.E 20.B 21.D 22.A 23.E 24.D 25.B 26.A 27.B 28.B 29.B 30.C 31.D 32.A 33.D 34.E 35.C 36.B 37.D 38.A 39.E 40.E 41.D 42.A 43.E 44.C 45.A 46.E 47.B 48.A 49.B 50.E 51.C

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