Seremos dissolvidos no mundo pós pandemia, pós utopia, pós empatia, pós verdade, pós liberdade, pós humanidade? Vivemos num lúgubre cemitério de velhos sonhos e ilusões, encantadamente iluminado por perigosas e anacrônicas promessas de progresso. Um feliz e avassalador mundo smart, onde impera a tecnologia, a segurança, a homogeneização cinza e triste e a vigilância total. Cyberania!
É preciso termos forças para abandonar o rebanho, distanciar-se e subir a montanha. Assim, bem de longe, para nossa angústia, podemos nos perceber harmoniosamente integrados às massas cegas, enxergarmos nossa pequenez, mesquinhez e podridão de espírito, nossa sede de poder, os micro-fascismos que alimentamos em nossos sonhos. Somente diante dessas constatações é que temos como desfigurar nossos rostos e destroçar nossos organismos, fazendo-nos renascer como monstros disformes e rebeldes.
As revoluções serão micropolíticas!
Joguemos apressadamente mais uma pá de terra sobre esses túmulos. Destruamos nossos ídolos carcomidos pelas vãs certezas que nutriram e nos fizeram nutrir. Nada disso faz mais sentido!
As revoluções serão micropolíticas, fazendo rizoma com potentes máquinas artísticas!
A arte é e será um alento. Nosso motor. Não a arte bela, inofensiva e prazenteira… Na resistência ao triste e totalitário mundo ”smart” pós pandêmico, queremos a arte rasura, desaforada, afrontosa, inominável, inclassificável, marginal, monstruosa! Será o desconforto como potência criadora!
A revolução é arte. Arte exploratória e produtora do real!
A arte comporá uma máquina para habitar um entre-mundos, mas sem identitarizar com nenhum deles.
Moveremo-nos como bandos nômades, marginais, não apenas nos defendendo, mas nos afirmando, nos reconstruindo infindavelmente sem identidades e entregues às eternas potências criadoras e revolucionárias!
Carlos Henrique Cunha
Historiador e Dr. em Ciências Sociais.